Pouco antes da estreia de Mr. Robot. o canal pago estadunidense USA Network anunciou que mudaria sua estratégia de programação. A ideia seria deixar para trás seus dramas de “céus azuis”, aqueles programas otimistas, geralmente procedurais, que acabavam passando quase que desapercebidos tanto pela crítica quanto pelo público; com a intenção de focar mais em produções ousadas e com tramas alongadas. Funcionou.

A série, estrelada pelo ótimo Rami Malek, apresenta uma situação não muito distante do mundo em que vivemos hoje: Elliot Alderson é um jovem idealista que quer ajudar a humanidade com seus problemas. O twist: inicialmente, percebemos que há algo de errado com ele – afinal, somos seu “amigo imaginário”. Elliot tem um problema mental que precisa fazer parte da equação para que o plano funcione.Emma-Mr-Robot

Primeiramente conhecemos apenas o solitário e introvertido Elliot. Engenheiro de segurança cibernética em uma firma que protege uma das maiores empresas tecnológicas (fictícia) do mundo, E Corp – ou Evil Corp, como o protagonista a chama ao longo dos dez episódios -, ele não parece ser uma ameaça muito grande ao mundo. Extremamente talentoso, no entanto, é logo na primeira hora de Mr. Robot que conhecemos a fsociety, grupo inspirado no real Anonymous que tem como meta algum tipo de ataque online. Eles contatam Elliot, pedindo sua ajuda para executar esse plano.

A fluidez do roteiro de Mr. Robot surpreende. São inúmeros personagens que vêm e vão, todos têm sua importância na trama mas, mais importante, na vida de Elliot. Perderemos algumas pessoas ao longo dos capítulos, mas todos têm seus arcos fechados, com histórias bem amarradas e completas. Cada um cumpre seu papel na trajetória de Elliot e no grande plano da fsociety, seja ele o de ajudar ou atrapalhar seu desenvolvimento.

Da mesma forma, a linguagem de certa forma experimental da produção também é excepcional. A voz de Elliot não chega a ser uma narração, mas sim um fio condutor. Precisamos saber o que se passa na cabeça dele, precisamos estar ali dentro para compreender e enxergar o mundo pelos seus olhos atormentados. Seus comentários sobre as pessoas ao seu redor chegam sempre carregadas de julgamento e sarcasmo, por vezes mostrando até mesmo como sua própria vida é complicada.

Por sua vez, todo o trabalho visual apresentado na série. Desde os belos enquadramentos, que usam ângulos diferentes para exemplificar o sentimento de superioridade ou inferioridade de um personagem em uma cena; dos bem construídos diálogos; à montagem, que vez ou outra, nos coloca dentro da cabeça de Elliot; até a abertura, que posiciona o título da série em momentos impactantes para que aquele logo fique colado também em seu cérebro; o trabalho de mixagem de som… Mr. Robot enche a tela da TV com o esmero de Sam Esmail e sua equipe – até com os títulos episódicos, que são nomeados como se fossem arquivos de vídeo, completos até com a extensão.

Em tempo, as comparações com Clube da Luta não são sem fundamento: sim, ambas as produções são parecidas em trama, objetivo final e há até uma “homenagem” nos últimos minutos do nono episódio, “eps1.9_zer0-day.avi”. Mr. Robot não perde sua autenticidade, entregando momentos surpreendentes mesmo quando a resolução é previsível.

Com uma segunda temporada garantida antes mesmo da série estrear na TV (o episódio piloto foi disponibilizado em mídias online um mês antes de seu debute televisivo), Mr. Robot finalizou seu primeiro ano sem pontas soltas na trama principal, mas com um gancho monstruoso: quem estava atrás da porta?

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